domingo, 22 de agosto de 2010

Chantal Akerman

A impossibilidade de situar alguém confortavelmente no mundo



Chantal Anne Akerman nasceu na Bélgica em 1950 e é filha de judeus poloneses sobreviventes do Holocausto. Atualmente mora em Paris e é professora de cinema no The European Graduate School ao lado de Peter Greenaway e Sophie Calle.
Com desejo de ser escritora, foi somente após ver Pierrot Le Fou (Jean-Luc Godard) que percebeu que o cinema podia ser experimental e pessoal, além de sentir nele uma compatibilidade maior com a maneira e os assuntos que desejava expressar. Com isso, ao fazer seus filmes, ela deu um novo significado ao termo filme independente, preenchendo-o com criatividade e pura independência.
 
Trabalho
Ela filmou mais de 40 trabalhos incluindo 35mm, video-ensaios e documentários experimentais. Em 1995, ela começou a exibir seu trabalho em museus e galerias como na Bienal de Veneza de 2001 e na Documenta de Kassel em 2002.
A maioria dos trabalhos é filmada em tempo real, em um espaço que faz parte da identidade do personagem. É comum ver mulheres em ambiente de trabalho e em casa, suas relações com homens, mulheres, crianças, comida, sexo, romance, arte etc.
Como todo frame (em geral 1/24 de segundo) é cuidadosamente composto e cada segundo é preenchido com a expectativa de que algo está prestes a acontecer, sua produção prende o espectador.
Pelo passado de seus pais, o “nada” sobre que eles recusavam falar virou o centro inspirador de seu trabalho. O peso da história é evidente em cada trabalho. Como ela diz em um dos monitores da video-instalação “Do Leste”, “eu me interesso por uma história... não mais com 'h' maiúsculo” – ou seja, a que não é oficial, a que não está nos livros. Ela filma a vida que está à margem e, através de uma estratégia subversiva, ela busca a minúcia nos aspectos aparentemente banais da vida cotidiana.
Há vezes em que os protagonistas de seus filmes lembram os famosos marginais, que encontram os tesouros escondidos nos cantos; outras vezes aparecem como personagens automatizados pelas tarefas do dia-a-dia. O que ela destaca são os problemas ocultos na rotina, a assimetria nos padrões de vida conhecidos. Contudo, além de mostrar o lado complexo da existência humana, ela traz um lado romântico, cheio de música, acaso, anseio e esperança.
O enredo em seus filmes é praticamente inexistente. Com isso, ela se dedica às elipses do cinema narrativo evitando clichés. Ela explora temas como o racismo no sul norte-americano, o terrorismo no oriente médio e a imigração ilegal. Desde o filme Saute Ma Ville (1968), Akerman se preocupa com a questão e impossibilidade de situar alguém confortavelmente no mundo. Apesar de ter dito que não gostaria que seu trabalho fosse estereotipado a partir do conceito de guetos, ela explora de modo ambivalente um fenômeno comum a ela e tantos os outros: ser identificado por pertencer a um grupo.
 
D'est (From the East): Do leste1993, 107min, Cor

Do Leste é uma video-instalação com 25 monitores que se baseia em um material documental de uma jornada sombria e surpreendente pelo leste europeu pós-guerra fria, que parece consistir apenas em pessoas esperando, indiferentemente, em filas.

Ela começa o trajeto no final do verão e termina no inverno rigoroso. São ouvidas línguas eslavas, são avistadas letras cirílicas em placas, mas nenhuma cidade, vila ou país é identificado. Justapostas às tomadas externas, estão as precisas sequências com câmera fixa dos rituais e prazeres da vida doméstica.

Este é o primeiro documentário em que Akerman foca uma região geográfica, que serão seguidos por “Sul” (1999 – Texas) e “Do outro lado” (2002 – fronteira Arizona-Mexico). Dos três, “Do Leste” é o único sem entrevistas. Apesar de não citar nomes, as pessoas e lugares deste filme não são anônimas: suas imagens não podem ser apagadas.

A partir de cenários urbanos noturnos e os rostos assombrados dos habitantes velhos leste-europeus, cria-se a ideia de que os personagens tenham escapado de um destino histórico cruel.

Na primeira sala uma única tela exibindo o filme de quase 2 horas. Na segunda: 24 telas, um som ruidoso de murmúrio de multidões em estações de trem, filas de ônibus e de cabines telefônicas acompanhada pelo som melancólico de um violoncelo. Ao invés de sincronizadamente, o som opera em contraposição às imagens.

Na sala seguinte: a voz de Akerman lê passagens do Antigo Testamento e anotações de seus diários. Isso mostra a aproximação autobiográfica dela em relação a sua obra, da mesma maneira que a história é gravada na vida de seus personagens.

Ao escrever sobre suas intenções e sua abordagem cinematográfica, Akerman diz: “Eu não vou tentar mostrar a desintegração do sistema, nem as dificuldades de entrar em outro, porque quem procura, acha, encontra muito bem, e acaba obscurecendo sua visão com seus próprios preconceitos”. Ao contrário, ela aborda seu objeto com um olhar atento e calmo, apenas filmando as pessoas que ela encontra e permitindo que a história e o significado emerjam organicamente.
“Em meus filmes, eu sigo uma trajetória oposta a dos cineastas políticos: eles têm um esqueleto, uma ideia, e depois vão adicionando a carne. Eu tenho, primeiramente, a carne. O esqueleto aparece depois”.
Trecho de "D'est" (1993)

Comentário:
Do Leste” na 29ª Bienal de São PauloA video-instalação de Chantal Akerman chama à atenção pontos relevantes ao tema guia da 29ª Bienal de S. Paulo – arte e política – como as fronteiras e divisões geográficas e políticas (em um nível mais evidente) e as separações identitárias, que permeiam querelas históricas, e estão presentes até hoje em diversas partes.

Podem ser levantados questionamentos em relação à diferença entre o indíviduo e o grupo, à natureza da massa, ao pertencer a um grupo, os critérios que são levados em conta para fazer isso, além da validade disso hoje em dia e as implicações que existem quando se agrupa pessoas a partir de etnias, origem, idioma, sexo, visão política, etc.

O percurso “Eu sou a Rua” estabelece relação direta com a ideia de um lugar onde se compartilha vida, encontro, construção, ações coletivas e percepções individuais – temas presentes em toda obra de Chantal Akerman. A partir de observações despretensiosas e aparentemente triviais de uma vida rotineira, Akerman expõe a existência humana com todas as suas necessidades de encontro, identificação, cumplicidade e, em justaposição, individualidade. Esses traços também podem ser explorados a partir do percurso “O outro, o mesmo”, estimulando uma nova série de questionamentos.

Fontes bibliográficas:

Pesquisa, tradução e comentário por Paulo Delgado



Texto da curadoria:


Chantal Akerman começou a filmar sem muitos recursos, tomando a si mesma como protagonista. De caráter experimental, suas obras recusam ou ampliam fundamentos da linguagem cinematográfica como continuidade, campo e contracampo, ou sincronia entre imagem e som. A artista constrói planos longos em enquadramentos fixos, quadros diante dos quais se movimentam sujeitos mobilizados com suas tarefas mais cotidianas, banais e repetitivas. Sem recorrer a tramas complexas ou aventurescas, Akerman deixa para o público a interpretação sobre o que ocorre na tela. Elementos sutis como trechos de conversas ou detalhes cênicos apontam para questões como a vacuidade da vida contemporânea, sentida sobretudo numa situação de exílio semelhante à da artista e de sua família, judeus poloneses exilados na Bélgica. *_D’Est_ foi filmado em uma jornada pelo Leste Europeu, desde a Rússia até a Alemanha, no início da década de 1990, quando grandes transformações geopolíticas ocorriam ali. A videoinstalação é composta por _travellings_ ambientados por um aglomerado de vozes e corpos indistiguíveis, numa polifonia de dialetos e rostos fugidios. A artista busca apreender, em imagem e som, e de uma só vez, um mundo em radical mudança.




Fala dos assistentes da curadoria em 18/08/2010


O filme D’est (93-95) tem 2h de duração, tem a identidade como questão (família polonesa, judia, exilada na Bélgica). Aspectos formais o distinguem da Nouvelle Vague. Planos enormes, feitos de um ponto fixo, mudos ou com ruídos incidentais. Edição cola pedaços indistintamente. Mostra os últimos suspiros da Europa Oriental e o povo meio perplexo com o declínio dos mitos e de ideais de sociedade comunista. Muita gente junta, muda, fazendo nada. Repetição, filas, espera, cotidiano. Registros foram feitos na Polônia, Rússia e Alemanha, porém, parecem ter sido feitos no mesmo lugar. Os deslocamentos de território não revelam diferenças significativas e, associados ao modo de captação das imagens, “pasteurizam” o olhar. A videoinstalação D’est terá, na primeira sala, a projeção do filme completo, com 2h. Na segunda sala, haverá 24 monitores em sincronia, exibindo diferentes momentos da jornada. Na terceira e última sala haverá um vídeo com um texto judaico de referência sobre imagem e representação.



Biografia


Chantal Akerman nasceu em 06 de junho de 1950 em Bruxelas, na Bélgica. Atualmente reside em Paris. Cineasta, escritora, atriz, produtora e compositora é uma importante diretora da sua geração. Quando adolescente, viu O Demônio das Onze Horas (Pierrot Le Fou, 1965), de Jean-Luc Godard e percebeu que o cinema poderia ser pessoal e experimental. Ela frequentou uma escola belga de cinema e, mais tarde, a Université Internationale du Théâtre em Paris, mas abandonou o curso em busca de seus próprios projetos. Akerman começou a fazer seus próprios filmes no final dos anos 60. Em 1968, ela concluiu seu primeiro filme, Saute ma ville, em preto-e-branco, com orçamento apertado e no qual ela estrela como uma jovem mulher num tragicômico dia, pouco antes das manifestações estudantis ocorridas na França naquele ano. Este filme foi apresentado em festivais de cinema e chamou a atenção crítica para sua abordagem inovadora e preparou o terreno para obras posteriores.

Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975) , seu filme mais conhecido e influente, foi elogiado pelo New York Times como "a primeira obra-prima do feminino na história do cinema." O filme mostra três dias na vida de Jeanne Dielman, uma dona de casa super-eficiente, que ganha dinheiro como prostituta. Vemos as rotinas internas de uma mulher, lenta e pacientemente, mas eles estão prestes a se tornar preocupante e finalmente culminando, como contas de colocá-lo regularmente, em um ato de violência chocante.

Akerman tem sido reconhecida por seu trabalho, recebeu um Prêmio Lumière (Academy Award da França) e um prêmio da FIRPRESCI (The International Federation of Film Critics), foi indicada para o Leão de Ouro (Festival de Veneza), e foi artista residente na Harvard University.

Em 1995, Akerman começou a experimentar vídeoinstalações e a exibir seus trabalhos em museus, galerias e salas de cinema de arte. Cada filme de Akerman é um mundo em si mesmo. São muitas vezes filmados em tempo real, num espaço que faz parte da identidade do personagem. Ela retrata mulheres no trabalho e em casa e suas relações com homens, mulheres, crianças, comida, amor, sexo, romance, arte, etc. Cada quadro é composto com cuidado, e piscar é perder algo crucial. Cada momento é impregnado da expectativa de que algo está para acontecer.

O peso da sua identidade é revelado em diversos momentos de sua obra. Ela filma a vida marginal e sua estratégia consiste na atenção às minúcias e aos aspectos aparentemente banais do cotidiano. Os protagonistas de seus filmes, por vezes, fazem lembrar flâneurs que encontram maravilhas escondidas nos cantos, e às vezes se assemelham a autômatos mergulhados nas tarefas da vida diária. Akerman traz à tona falhas imprevistas na rotina e as assimetrias dos padrões de vida. Além de mostrar a complexidade problemática da existência humana, Akerman é também romântica. Seus filmes são cheios de música, da magia do acaso, de saudade e esperança. Ela evita clichês e o espectador deve se aproximar de seus filmes com os olhos e a mente abertos. A emoção está dentro dos personagens e da impossibilidade de situarem-se confortavelmente no mundo. Ela geralmente usa técnica de colagem para inserir muitas passagens autobiográficas. Akerman também investiga temas polêmicos como o racismo na América do Sul, a imigração ilegal e o terrorismo no Oriente Médio.


Texto traduzido e adaptado de http://www.egs.edu/faculty/chantal-akerman/biography/ e www.contemporarystl.org/documents/akerman.pdf por  Ana Luisa Nossar


Filmografia:
À l'Est avec Sonia Wieder-Atherton (2009) (TV)
La folie Almayer (2009)
Women from Antwerp in November (2008)
O Estado do Mundo (2007) (segmento Tombée de nuit sur Shanghai)
Là-bas (2006)
Demain on déménage (2004)
Avec Sonia Wieder-Atherton (2003) (TV)
De l'autre côté (2002)
La captive (2000)
Sud (1999)
Cinéma, de notre temps (1 episódio, 1997)
Chantal Akerman par Chantal Akerman (1997) episódio de TV
Un divan à New York (1996)
Tous les garçons et les filles de leur âge... (1 episódio, 1994)
Portrait d'une jeune fille de la fin des années 60 à Bruxelles (1994) episódio de TV
D'Est (1993)
Monologues (1 episódio, 1993)
Le déménagement (1993) episódio de TV
Nuit et jour (1991)
Contre l'oubli (1991)
Histoires d'Amérique (1989)
Trois strophes sur le nom de Sacher (1989)
Les trois dernières sonates de Franz Schubert (1989)
Golden Eighties (1986)
Seven Women, Seven Sins (1986) (segmento Portrait d'une Paresseuse)
Letters Home (1986)
Mallet-Stevens (1986)
Le marteau (1986)
La paresse (1986)
Paris vu par... vingt ans après (1984) (segmento 1 J'ai faim, J'ai froid)
New York, New York bis (1984)
Family Business: Chantal Akerman Speaks About Film (1984) (TV)
Lettre d'un cinéaste: Chantal Akerman (1984) (TV)
J'ai faim, j'ai froid (1984)
Les années 80 (1983)
L'homme à la valise (1983) (TV)
Un jour Pina m'a demandé (1983) (TV)
Toute une nuit (1982)
Dis-moi (1980) (TV)
Les rendez-vous d'Anna (1978)
News from Home (1977)
Je, tu, il, elle (1976)
Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975) (como Chantal Anne Akerman)
Le 15/8 (1973)
Hanging Out Yonkers (1973)
Hôtel Monterey (1972)
La chambre (1972)
L'enfant aimé ou je joue à être une femme mariée (1971)
Saute ma ville (1968)
Fonte: http://www.imdb.pt/name/nm0001901/

Folder da mostra “Os filmes de Chantal Akerman” - Centro Cultural Banco do Brasil SP, 2009. http://www.filmesdequintal.com.br/forumdoc2008/akerman/folderSPFinal.pdf


Textos críticos


On the Work of Chantal Akerman - Contemporary Art Museum St. Louis Assistant Curator Laura Fried speaks about the work of Chantal Akerman, on the occasion the Chantal Akerman: Moving Through Time and Space exhibition at the Contemporary, May 8 through August 2, 2009. http://www.youtube.com/watch?v=9npY9FoGI6o


Bordering on Fiction: Chantal Akerman's journeys through time, space, and history by David Schwartz. July 2, 2008 http://www.movingimagesource.us/articles/bordering-on-fiction-20080702


Persistence of vision: the films of Chantal Akerman, by Malcolm Turvey, November 2008
http://www.artforum.com/inprint/id=21346


In Her Own Time: An Interview with Chantal Akerman, by Miriam Rosen, April 2004 http://www.artforum.com/inprint/issue=200404&id=6572&pagenum=0


Entrevistas


Her Brilliant Decade: Chantal Akerman on New York, mother-daughter bonds, and her '70s classics, by Melissa Anderson, January 19, 2010 http://www.movingimagesource.us/articles/her-brilliant-decade-20100119



Chantal Akerman, de cá (2010), por Paulo Henrique de Moura. http://www.culture-se.com/noticias/101/chantal-akerman-de-ca


Fragmentos D'Est
http://www.youtube.com/watch?v=SDJ3JiSwGYg e http://www.youtube.com/watch?v=7QYByp84_6I


Comentário:


Chantal Akerman atua na fronteira entre o cinema e a videoarte. O trabalho D‘est: Au bord de la fiction que será exibido na 29a Bienal é um documentário convertido em videoinstalação. O que certamente influi na experiência do visitante. Os fragmentos de D'Est revelam tomadas longas e quase mudas, pessoas em atitude de conformismo silencioso e indiferentes em relação à câmera. Não há pistas a respeito de onde ou quando as imagens foram captadas. A pesquisa revela que o documentário foi realizado no período que corresponde ao declínio das ideologias comunistas no leste europeu. O que mais chama a atenção é o comportamento passivo da “manada”. O modo como o espaço e o tempo são representados é pouco comum, opaco, não há uma linha narrativa, a câmera, muitas vezes fixa, o som incidental e os cortes secos justapõem cenas como numa colagem. Estes planos longos e bruscamente recortados me transportaram para um outro tempo. Este tempo moroso de contemplação me transformou numa espectadora curiosa, um voyeur, cujas esperanças são renovadas a cada recorte, sempre à espera de um clímax dramático que não chega nunca. Por Ana Luisa Nossar.





Chantal Akerman (Bruxelas, 6 de junho de
 1950)




Saute Ma Ville, 1968


A belga Chantal Akerman é descendente de judeus. Seus pais fugiram da Polônia para escapar da perseguição nazista o que acabou por influenciar a questão da identidade judaica e do Holocausto que será constantemente explorada em sua obra. Chantal é  considerada uma das cineastas mais importantes de sua geração por retratar o universo feminino de uma maneira que une o respeito pela diferença e pela liberdade. Tem grande influência do cinema de Jean-Luc Godard. A temática de seus filmes caminha desde uma visão crítica do comportamento da classe média, atendo-se principalmente à mulher, até os problemas políticos mais gerais da sociedade, relacionando às questões subjetivas às questões objetivas de suas personagens.

Aos 18 anos, ingressa no Institute Supérieur des Arts du Spectacle et Technique de Diffusion. Abandona os estudos logo no primeiro semestre para fazer seu primeiro filme, o curta "Saute ma Ville" (1968). Em 1971, o filme estreia no festival de curtas de Oberhausen. Nesse mesmo ano, ela se muda para Nova York. Lá, entra em contato com o estruturalismo, através dos filmes de Stan Brakhage, Jonas Mekas, Michael Snow e Andy Warhol - influências decisivas para sua obra. Em 1974, com "Je Tu Il Elle", seu primero longa-metragem, obtém reconhecimento da crítica e sua obra atinge o auge com "Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelle", filme aclamado pelo New York Times como "a primeira obra-prima do feminino na história do cinema".

Ao longo de sua carreira, realiza mais de 40 filmes para televisão e cinema, entre ficções e documentários, seja como diretora, roteirista, atriz e produtora. Além disso, a a partir de 1995, faz instalações em diversos centros e galerias de arte do mundo, participando de importantes festivais internacionais como a Bienal de Veneza (2001) e o Documenta de Kassel (2002). Publica três livros: "Hall de nuit" (Editions de l'Arche, 1992), "Un divan à New York" (Editions de l'Arche, 1996) e "Une famille à Bruxelles" (Editions de l'Arche, 1998).

O rigor formal de seu trabalho se alia a um estilo de narrativa que privilegia a inserção de um olhar pessoal e se deixa atravessar por traços autobiográficos. A opção da artista por planos longos, o rigor de seus enquadramentos e as narrativas autobiográficas inserem sua obra na tradição de um cinema de resistência aos padrões do cinema industrial.

No plano temático, Akerman privilegia questões políticas, de identidade e de sexualidade. Seus filmes, em especial os realizados entre os anos 1970 e 1980, contribuíram para os estudos sobre cinema e feminismo. As questões judaicas e das minorias raciais também atravessam sua obra. Em "D'est", ela volta à região do país de origem de seus pais, num trabalho que consegue aliar precisão estética a questões éticas e políticas. Em "De l'autre côté", ela viaja para a fronteira dos EUA com o México para tratar das questões da imigração mexicana. Em "Là-bas", aclamado em Cannes, é a vez da diretora refletir sobre a questão judia num filme realizado em Israel.

Entre seus trabalhos mais conhecidos estão "Um Divã em Nova York", com Juliette Binoche e William Hurt, e "Histórias da América", ganhador do Urso de Ouro no Festival de Berlim em 1989. Em "O Estado do Mundo", Chantal divide a direção com Pedro Costa, Vicente Ferraz, Bing Wang, Apichatpong Weerasethakul e Ayisha Abraham - é a visão de diferentes cineastas sobre o mundo. No cruzamento desses olhares, um lugar de reflexão, dinâmico e radicalmente interrogativo, sobre o "Estado do mundo", parte de um projeto da Fundação Gulbenkian de Portugal e que foi apresentado na Quinzena de Realizadores de Cannes 2007.



Trecho de “D’est”


Filmografia

Diretora:
-O Estado do Mundo (2007) (Longa-metragem), (segmento "Tombée de nuit sur Shanghai")
-Lá (2006) (Longa-metragem)
-Do Outro Lado (2002) (Longa-metragem)
-A Prisioneira (2000) (Longa-metragem)
-Um Divã em Nova York (1996) (Longa-metragem)
-Do Leste (1993) (Longa-metragem)
-Contre l'oubli (1991) (Longa-metragem), (segmento "Pour Febe Elisabeth Velasquez, El Salvador")
-Noite e Dia (1991) (Longa-metragem)
-Histórias da América (1988) (Longa-metragem)
-Golden Eighties (1986) (Longa-metragem)
-Carta de uma Cineasta: Chantal Akerman (1984) (Curta-metragem)
-Paris vu par... vingt ans après (1984) (Longa-metragem), (segmento 1 "J'ai faim, J'ai froid")
-Tenho Fome, Tenho Frio (1984) (Curta-metragem)
-Os Anos 80 (1983) (Longa-metragem)
-Toda uma Noite (1982) (Longa-metragem)
-Os Encontros de Anna (1978) (Longa-metragem)
-Notícias de Casa (1977) (Longa-metragem)
-Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975) (Longa-metragem)
-Eu Tu Ele Ela (1974) (Longa-metragem)
-Hotel Monterey (1972) (Longa-metragem)
-Exploda Minha Cidade (1968) (Curta-metragem)

Atriz:
-Carta de uma Cineasta: Chantal Akerman (1984) (Curta-metragem), Chantal Akerman
-Notícias de Casa (1977) (Longa-metragem), (voz)
-Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975) (Longa-metragem), Vizinha (voz)
-Eu Tu Ele Ela (1974) (Longa-metragem), Julie
-Exploda Minha Cidade (1968) (Curta-metragem)
-Fotógrafo
-Lá (2006) (Longa-metragem)
-Do Outro Lado (2002) (Longa-metragem)

Produtora:
-Hotel Monterey (1972) (Longa-metragem), produtora

Roteirista:

-Lá (2006) (Longa-metragem)
-Do Outro Lado (2002) (Longa-metragem)
-A Prisioneira (2000) (Longa-metragem)
-Um Divã em Nova York (1996) (Longa-metragem)
-Do Leste (1993) (Longa-metragem)
-Noite e Dia (1991) (Longa-metragem)
-Histórias da América (1988) (Longa-metragem)
-Golden Eighties (1986) (Longa-metragem)
-Paris vu par... vingt ans après (1984) (Longa-metragem), segmento 1 "J'ai faim, J'ai froid"
-Tenho Fome, Tenho Frio (1984) (Curta-metragem)
-Os Anos 80 (1983) (Longa-metragem)
-Toda uma Noite (1982) (Longa-metragem)
-Os Encontros de Anna (1978) (Longa-metragem)
-Notícias de Casa (1977) (Longa-metragem)
-Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975) (Longa-metragem)
-Eu Tu Ele Ela (1974) (Longa-metragem)
-Hotel Monterey (1972) (Longa-metragem)


Televisão

Diretora:

-Cinéma, de notre temps (1988) (Série de TV)

Episódios:
-Chantal Akerman por Chantal Akerman (1997)
-Chantal Akerman por Chantal Akerman (1997), Chantal Akerman
-O Homem da Mala (1983) (Feito para TV)

Atriz:
-Cinéma, de notre temps (1988) (Série de TV)

Episódios:
-Chantal Akerman por Chantal Akerman (1997)
-Chantal Akerman por Chantal Akerman (1997), Chantal Akerman

Fontes:




pt.wikipedia.org/wiki/chantal_akerman

Um comentário:

  1. Somos sinceros conosco?
    Minha cabeça está sempre uma bagunça, acho que já superei tanta coisa que na verdade acho que mecanismos humanos irracionais me enganam.
    Superar também é esquecer. Será que esqueci? De tudo que meus sentidos capturam e apreendem do mundo lá fora?
    Bobagem.
    Jamais seremos livres.

    VIDA
    As coisas acontecem, o vento sopra, pessoas pensam, existem. Isso é vida.
    Isso é vida?
    Seremos tão miseráveis? A ponto de que nossas valiosas e maravilhosas vidas sejam mera existência?
    Não somos belos.

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