quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O terreiro Eu Sou a Rua

In: http://www.29bienal.org.br/FBSP/pt/29Bienal/Canal29/Paginas/Noticia.aspx?not=46

ENTREVISTA EU SOU A RUA – O LUGAR DA CIDADE NA EXPOSIÇÃO

​Partindo da ideia de que o terreiro é o espaço de debates e falas, o lado discursivo da Bienal, o UNStudio concebeu um projeto arquitetônico que atende a dinâmica de uma exposição de arte que acontece cotidianamente. Assim como em sua produção que acontece pontualmente em espaços urbanos, em contato direto com a rua, propõe para a Bienal um lugar, que já em sua forma, anuncia uma aproximação com a própria dinâmica da circulação e do encontro necessários para uma exposição desse porte. Em entrevista concedida recentemente, Ben van Berkel, arquiteto-chefe, define pontos que envolvem as aproximações entre sua poética, a potência construtiva da arquitetura e os interesses definidos por uma vocação específica, ou seja, uma arquitetura de negociação.

Você define o UNStudio como sendo um escritório de arquitetura com prática internacional, que concebe projetos tanto na esfera pública, quanto privada, em diversas escalas urbanas. Considerando que projetos arquitetônicos estabelecem estreitas relações com o espaço geográfico e social, assim como com recursos da criação que incluem atividades políticas e estéticas, como a prática poética se mostra em seus projetos? Qual a veia criativa do UNStudio?
Ben van Berkel: Projetamos com palavras. Se ao ler tais palavras você é capaz de construir frases ou uma cadência, isso é por sua conta. Há muitas maneiras distintas de ler e interpretar tais palavras. Às vezes há espaço para uma interpretação estética ou cultural, mas isso depende de cada indivíduo. Quando fazemos o projeto, preferimos evitar exagerar na didática e deixar a interpretação aberta para as diversas leituras possíveis.

Como é a troca e a interação entre os arquitetos e a rede cultural deste novo espaço de construção, que foca nesta “importante contribuição à arquitetura como disciplina” e que engloba “consciência ambiental, demanda de mercado e os desejos do cliente”?
BVB: Ultimamente acreditamos na arquitetura possível, que combina a preocupação ambiental e sustentável com os sonhos e desejos do cliente. Mas esse não é o aspecto mais importante para nós. Para nós, o mais importante é adicionar e reconfigurar o briefing do cliente, de modo que todos os desejos e necessidades logísticas do cliente estejam presentes na arquitetura, ao mesmo tempo em que o projeto tenha algo a mais, decorrente da virtude do processo criativo. Para nós, a faceta mais importante do nosso trabalho é o que adicionamos ao briefing original ou como adaptamos isso de acordo com o que queremos atingir nos nossos projetos.

Na sua proposta para o terreiro “Eu sou a rua”, a cidade e a rua são vistas como um ambiente expressivo, de negociação, além de uma metáfora da arte propriamente dita. Podemos observar que há três expressões interrelacionadas em seu Terreiro, sendo elas a arte, a política e a arquitetura, trazendo à tona um espaço de descoberta, reunião e negociação, e não somente um local, dentro de outro local. Como você estabelece as relações entre as esferas e fortalece sua forma de “ação”, tanto de maneira simbólica quanto formal?
BVB: Como você bem descreveu, é exatamente esse aspecto da negociação que eu quero introduzir nas possibilidades da nossa arquitetura. É uma excelente qualidade da arquitetura de hoje; ela pode ser posicionar em diversos níveis e ter novamente aceitação cultural para essa riqueza de significados e leituras. A arquitetura pode ter sua expressão cultural de forma semelhante à percepção ou interpretação da arte e os arquitetos podem incorporar essa mesma abordagem ao conceber seus projetos. Em dois projetos recentes que fizemos, por exemplo, brinquei com a ideia de procurar as sombras entre os prédios. Isso não tem um sentido literal, mas sim metafórico, que eu gostaria de tratar para falar da forma com que nossa sociedade opera nos dias de hoje. Esse processo é quase um dinâmico jogo de aprendizado através da produção de algo ativo, mas que não produz qualquer resultado explícito. A interpretação metafórica dos espaços pode ser semelhante à leitura de uma obra de arte. Assim, embora a mecânica e a abordagem possam ser bastante semelhantes, os resultados são diferentes.

Em relação ao espaço construído do terreiro (Youturn), você tem alguma sugestão de como o visitante pode usá-lo, como se fosse um “guia do usuário sobre possibilidades de interação”?
BVB: Gosto quando os prédios são organizados de uma maneira tal que se tornam um tipo de guia por si só, mas não de uma maneira linear; não é como escalar um montanha; é mais como se esse guia fosse ramificado e você pudesse descobrir os espaços sem necessariamente ter muita sinalização. Então, o guia do usuário é algo a ser descoberto à medida que você se movimenta no espaço. Não há exatamente um mapa.

O Terreiro “Eu sou a rua” tem uma vocação para debates, encorajando discussões e propostas de interação entre as pessoas. Quais as intenções e estratégias usadas no desenvolvimento dessa construção conceitual e formal?
BVB: Nada mais além do fato de querer criar um ambiente em que outras coisas possam acontecer, além da simples experimentação do objeto propriamente dito. O objeto então se torna também uma máquina de diálogo.

Observado do topo, o formato do Terreiro se parece com a Fita de Möbius. Há alguma referência a esse desenho, buscando ajudar na representação/construção de um fluxo não hierárquico em “Eu sou a rua”?
BVB: Sim.

Outra referência que parece contribuir para seu conceito de Terreiro é o teatro em formato circular, conhecido como teatro de arena. E há uma forte coincidência entre sua proposta e o local onde ocorre o debate Capacete, como você sabe. De que maneira você atualizou sua proposta arquitetônica no Terreiro? Quais são as interconexões entre os dois espaços?
BVB: A estrutura não se refere exatamente à arena ou ao teatro de forma literal. Na verdade, refere-se mais ao caráter de imanência do teatro.

Como conseguiu combinar uma proposta de acessibilidade, convidando à exploração do local, que ao mesmo tempo é “isolado” da área de maior movimento da exposição?
BVB: A estrutura está realmente presente para criar um marco e para funcionar como ponto de intersecção da exposição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário